Cuidar de uma pessoa que vive com Demência consiste numa importante mudança de vida e pode implicar alterações de prioridades, estilo de vida e dinâmica relacional com a pessoa cuidada. E pressupõe a prestação de cuidados extraordinários que excedem os limites do que é normativo ou habitual nas relações familiares.

Ainda que os cuidadores identifiquem diversas consequências positivas do ato de cuidar, a prestação de cuidados envolve habitualmente um dispêndio significativo de tempo, energia e dinheiro ao longo de longos períodos e inclui a realização de tarefas que podem ser desagradáveis, psicologicamente stressantes e fisicamente desgastantes.

Com efeito, os impactos negativos da prestação de cuidados no cuidador informal podem ser diversos e significativos: morbilidade física (maior risco de problemas cardiovasculares, fadiga e outros problemas crónicos) e psicológica (sintomas clinicamente significativos de depressão e ansiedade), perdas associadas ao “self” da pessoa cuidada e à relação prévia entre ambos, isolamento social, disrupções familiares, necessidades sociais, problemas financeiros, laborais e jurídicos.

Se procura estar mais informado sobre os sinais de alerta do cuidador informal em stress, as estratégias que pode desenvolver e as intervenções de que pode beneficiar com vista a melhorar o seu bem-estar, continue a ler este artigo.

Sinais de alerta, estratégias e intervenções para promoção do bem-estar do Cuidador Informal

Sinais de alerta:

  • Negação sobre a doença e os seus efeitos na pessoa cuidada
  • Raiva da pessoa cuidada ou frustração por ela não conseguir fazer as coisas que costumava
  • Isolamento social de amigos e atividades prazerosas
  • Ansiedade em relação ao futuro e em ter de enfrentar mais um dia
  • Depressão afeta o ânimo e a capacidade de lidar com a situação
  • Exaustão que torna quase impossível completar as atividades diárias necessárias
  • Insónia causada por uma lista interminável de preocupações
  • Irritabilidade que gera mau humor e desencadeia respostas e ações negativas
  • Falta de concentração que dificulta a realização de tarefas habituais

Estratégias:

Se é cuidador informal e sente algum destes sinais de stress regularmente, consulte o seu médico. Ignorar os sintomas pode causar o declínio da sua saúde física e mental. O cuidador informal em stress pode também adotar várias estratégias para melhorar o seu bem-estar:

  1. Informar-se sobre a doença e os recursos disponíveis na comunidade
  2. Participar em ações de capacitação para ganhar competências e prestar bons cuidados
  3. Adotar um estilo de vida saudável. Faça atividade física, cuide da sua alimentação e do seu sono
  4. Não descurar, na medida do possível, a sua vida social
  5. Envolver familiares, amigos e vizinhos no acompanhamento da pessoa cuidada e partilhar responsabilidades. Se possível, inclua também as crianças e os jovens
  6. Preparar-se para o amanhã. Estar um passo à frente. Tomar decisões de natureza jurídica e/ou financeira
  7. Promover a autonomia da pessoa cuidada e disfrutar de momentos prazerosos na sua companhia
  8. Não se culpar nem culpar a pessoa que vive com demência. A doença é que é a culpada
  9. Priorizar o autocuidado e desenvolver estratégias para lidar melhor com as emoções e o stress. Usar técnicas de relaxamento. Reservar algum tempo livre para si mesmo. Tentar viver um dia de cada vez
  10. Procurar ajuda das pessoas que lhe são próximas e de profissionais

Intervenções:

Existem diversas modalidades de intervenção não farmacológica dirigidas a cuidadores informais:

  • Apoio psicológico individual, numa vertente de aconselhamento/psicoterapia de apoio ou de acordo com uma abordagem psicoterapêutica específica
  • Grupo de suporte/ajuda mútua
  • Programas de psicoeducação individual ou emgrupo
  • Treino de competências
  • Acompanhamento familiar
  • Respostas de alívio/descanso
  • Projetos e iniciativas na comunidade (exemplo: Cafés Memória)  

É infelizmente habitual que os cuidadores informais demorem demasiado tempo a pedir ajuda. Muitas vezes, estão tão focados na pessoa de quem cuidam que desvalorizam a sua saúde física e mental. Também acontece estarem tão cansados que não têm a energia suficiente para ir procurar apoio. Sucede ainda, especialmente com as mulheres cuidadoras, sentirem que têm um especial dever de cuidar e que têm de sofrer em silêncio os efeitos negativos inerentes ao desempenho deste papel. Contudo, quanto mais tarde se intervir mais difícil se torna.

É importante dar o primeiro passo. Ligar para uma Linha de Apoio e falar com um profissional, por exemplo. Um telefonema não resolve tudo, mas falar com alguém que está disponível para ouvir e tem a competência necessária para ajudar pode ser uma iniciativa importante para promover o bem-estar do cuidador informal.

Este artigo é da autoria da Alzheimer Portugal, que se dedica há 36 anos a promover a qualidade de vida das Pessoas com Demência e dos seus familiares e Cuidadores.

Referências Bibliográficas

Alzheimer’s Association
https://www.alz.org/help-support/caregiving/caregiver-health/caregiver-stress

Alzheimer’s Disease Organization & Organização Mundial da Saúde (2012). Dementia: a public health priority.

LindezaP, Rodrigues M, Costa J, et al. BMJ Supportive & Palliative Care2020;0:1–12. doi:10.1136/bmjspcare-2020-002242

Livingston, G. e Colaboradores. Dementia prevention, intervention, and care. Report of the Lancet Commission.(2017)
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(17)31363-6/abstract

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