Para que as pessoas possam viver melhor com demência precisam de continuar a ocupar-se, a relacionar-se com os outros, a participarem socialmente e a sentirem que fazem parte.
As atividades em que podem querer envolver-se serão escolhidas em função de um conjunto alargado de variáveis, tais como, a personalidade, o percurso de vida, os gostos, os recursos sociais e financeiros, o lugar em que vivem e a fase da doença em que se encontram.
É importante ter em conta que a ocupação é uma necessidade intrinsecamente humana e que, por esse motivo, também importa a quem vive com demência estar ocupado, sendo este um aspeto crucial para manter a sua dignidade e o sentido da vida.
O envolvimento em atividades com significado contribui para a sua saúde física, mental e emocional, potenciando a autonomia e promovendo uma vida satisfatória. Se procura estar mais informado sobre atividades que possam ser do interesse e agrado das pessoas que vivem com demência e o que ter em conta para as realizar, continue a ler este artigo.
Necessidades, interesses e desejos das pessoas que vivem com demência
Habitualmente, as atividades que se identificam como significativas para uma determinada pessoa com demência estão relacionadas com os seus gostos, rotinas e experiências anteriores.
Contudo, a demência também pode provocar alterações nas preferências, isto é, a pessoa pode gostar agora de uma atividade que desmerecia anteriormente ou vice-versa e é preciso ter em conta estas possíveis mudanças. Deve considerar-se ainda a hipótese de a pessoa querer experimentar coisas novas, como por exemplo, visitar um museu, fazer jardinagem, dançar ou provar uma sobremesa nova.
O apoio das pessoas de referência que acompanham quem vive com demência pode facilitar o acesso às atividades e à sua concretização. Numa fase mais adiantada da doença, o cuidador pode ser o elemento-chave para garantir que a pessoa continua a ter oportunidades regulares de ocupação, ainda que estas possam ser adaptadas ou simplificadas e que os tempos de descanso possam vir a aumentar.
À medida que a doença evolui, será preciso investir mais no planeamento e ter em conta o tempo que a atividade demora, as condições de acessibilidade e conforto, os materiais e meios necessários e a capacidade que a pessoa mantém para a realizar.
A falta de motivação e de iniciativa são barreiras frequentes à ocupação que, por um lado podem ser causadas pela evolução da doença, mas também podem dever-se à falta de oportunidades que as pessoas e o ambiente em redor proporcionam. Por isso, importa encorajar, validar e elogiar para manter o ânimo e a confiança da pessoa e evitar transformar uma atividade numa situação stressante ou frustrante.
É ainda fundamental sublinhar que a falta de ocupação pode levar a um estado de tédio e apatia, prejudiciais para o bem-estar, autonomia e qualidade de vida da pessoa.
Propostas de Atividades
Podem ser considerados vários tipos de atividades com vista a ocupar significativamente o dia-a-dia da pessoa que vive com demência.
A participação ativa nos eventos familiares e na vida da comunidade constituem importantes oportunidades de ocupação, assim como a simples fruição de um momento de lazer ou de pequenos prazeres da vida, tais como, tratar de uma planta, dar festas a um animal de estimação, ouvir música, comer uma bola de gelado, rever um álbum de fotografias, caminhar no jardim do bairro, massajar as mãos ou beber um chá quente no inverno e frio no verão.
O foco da ocupação poderá incidir na estimulação das capacidades cognitivas para exercitar a mente e o funcionamento geral do cérebro ou na estimulação do funcionamento motor, nomeadamente para manter a autonomia e prevenir as quedas. Também podem ser desenvolvidas atividades para estimular os sentidos (visão, audição, tato, gosto e olfato), tais como tocar em objetos com diferentes texturas e apreciar as diferenças, degustar uma água aromatizada ou cheirar os cremes ou perfumes que usa.
As atividades de vida diária consistem em áreas de ocupação significativa por excelência: ir às compras, participar na confeção de uma refeição, ajudar a tratar da casa e da roupa, tomar banho, vestir, alimentar-se. Assim sendo, o domicílio pode e deve consistir num espaço preferencial para a pessoa continuar a estar ocupada e a sentir-se útil, ainda que possa vir a precisar de um apoio crescente na realização destas atividades e de adaptações que promovam a segurança e a manutenção da sua autonomia.
Em jeito de conclusão, importa reafirmar que a pessoa pode viver melhor com demência se tiver a possibilidade de se manter ocupada com atividades significativas e prazerosas e que esta necessidade humana perdura ao longo do curso da doença, ainda que em fases mais adiantadas seja necessário adaptar as atividades à condição cognitiva e funcional em que se encontra para permitir que se sinta pessoa até ao fim.
Este artigo é da autoria da Alzheimer Portugal, que se dedica há 36 anos a promover a qualidade de vida das Pessoas com Demência e dos seus familiares e Cuidadores.
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Referências Bibliográficas
“Estimulação Global da Pessoa com Demência”. Ana Antunes, Ana Valverde, Carla Pombo, Catarina Alvarez, Elena Pimentel, Isabel Sousa, Cátia Gameiro e Pedro Varandas (2022). Ed. Câmara Municipal de Sintra
“Viver com Demência”. Gabriela Álvares Pereira e Isabel Sousa. (2022). Ed. OPP https://www.eventos.ordemdospsicologos.pt/product/livro-viver-com-demencia/